Em debate com senadores nesta terça, Flávio Dino anuncia operações para apreender armas

66

Segundo o ministro, o governo prepara um novo decreto para promover um “controle responsável” do arsenal na mão de civis.

O debate sobre armas mobilizou parte da audiência pública na CSP, que foi presidida pelo senador Sergio Petecão (PSD-AC). Para a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), armas de uso restrito nas mãos de civis acabam sendo desviadas para o crime organizado.

O senador Magno Malta (PL-ES), autor do convite a Flávio Dino, defendeu o acesso de colecionadores, atiradores desportivos e caçadores — conhecidos como CACs — às armas de fogo.

“Quero saber é como Vossa Excelência vai fazer para desarmar as organizações criminosas. Desarmar o cidadão de bem, o senhor já disse como fazer. Agora quero saber como desarmar as organizações criminosas”, questionou o senador.

Em resposta, o ministro listou as ações do governo contra as organizações criminosas, disse que “alguns CACs se associaram a práticas criminosas.  “Criminosos viraram CACs, e CACs também se associaram a práticas criminosas”, disse elle, ressaltando que a imensa maioria dos CACs que não comete crimes.

Ianomâmis – Questionado pelos senadores Damares Alves (Republicanos-DF), Dr. Hiran (PP-RR), Leila Barros (PDT-DF) e Rogerio Marinho (PL-RN), Flavio Dino comentou o conflito entre garimpeiros e indígenas nas terras ianomâmi. Nas últimas duas semanas, foram registradas 17 mortes na área.

“Estamos nesse processo de desintrusão. Mais de 80% [do processo] já foi executado. Infelizmente, isso foi se avolumando ao longo de anos em que não havia o respeito à lei. Tenho conhecimento de dezenas de ofícios enviados ao Ministério da Justiça desde 2020, alertando de que havia uma situação gravíssima e ninguém fez nada. É uma situação dramática que me parece configurar genocídio”, afirmou.

Em resposta ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Dino defendeu a votação, pela Câmara dos Deputados, do projeto de lei (PL) 2.630/2020, do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE). Chamado de PL das Fake News, o texto institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet e tem objetivo de combater a disseminação de notícias falsas.

“Uma rádio é regulada? Sim. Uma TV? Sim. A família? Sim. O parlamentar? Sim. Uma farmácia? Também. Uma fazenda? Um banco? Também. Por que só as plataformas tecnológicas não podem ter regulação, se todas as atividade humanas, lucrativas ou não, têm regulação? Quem deu essa imunidade jurídica para cinco empresas que querem controlar o pensamento, a arte, a cultura, a politica, a economia, os negócios? Que imunidade é essa? Imunidade do poder financeiro? Que quer inclusive ameaçar esse Parlamento? Chantagear esse Congresso? É claro que é necessária uma regulação” argumentou.

“Anomalias” – O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) pediu a Flávio Dino uma resposta para a superlotação de presídios, e, em resposta, Dino disse ter identificado algumas “anomalias” quando assumiu o Ministério da Justiça. Uma delas foi a existência de “dinheiro empoçado”, ou seja: orçamento público disponível para execução, mas “travado” por falta de regras mais simples para a liberação para os estados e o Distrito Federal. Seriam R$ 2,2 bilhões do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) e R$ 2,4 bilhões no Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP).

A audiência pública contou com a participação de trinta senadores (Pedro França/Agência Senado›)

Pronasci – O senador Sergio Moro (União-PR), que foi ministro da Justiça entre 2019 e 2020, questionou a decisão do Poder Executivo de lançar uma nova versão do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, o Pronasci II.

“Estudos feitos em cima do Pronasci apontaram que, apesar do elevado dispêndio de bilhões de reais, não houve o resultado pretendido. Quando o Pronasci começou, havia 48 mil assassinatos por ano no Brasil. Quando foi encerrado, em 2011, eram 52 mil. Em 2016, foram 62 mil assassinatos, que voltaram a cair apenas em 2018 e anos seguintes. Por que insistir num programa que não deu certo no passado para a redução da criminalidade?”, questionou.

Em resposta, Flávio Dino defendeu o Pronasci, criado pela Lei 11.530, de 2007.

“Estamos aprimorando e corrigindo o Pronasci, mas não negando. Por uma razão simples: é uma lei. Se eu não aplico a lei, eu estou errado. Se o senhor não aplicou, o senhor errou. O Pronasci é uma lei votada por este Congresso Nacional, que nunca foi revogada. Não podemos simplesmente pegar uma lei e jogar fora. O senhor não pode pedir que o governo deixe de cumprir a lei por conta de uma vontade autoritária de impedir o governo de governar. Compreendo sua irresignação com o governo, é um direito que o senhor tem. Mas não nos peça para violar a lei. Somos o governo da lei”, afirmou o ministro.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) criticou uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 635/2019) que impede operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro desde a a pandemia do coronavírus. A medida foi proposta ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo PSB, partido de Flávio Dino.

Dino disse estar solidário com a população do estado. Em relação a ADPF, disse que é preciso esperar o STF julgar. “É claro que há muitas audiências de conciliação entre STF, governo do Rio e governo federal”, explicou.

08 de janeiro – O senador Marcos do Val (Podemos-ES) criticou a atuação de Flávio Dino durante os atos golpistas do dia 08 de janeiro. As investigações sobre o caso resultaram na prisão de Anderson Torres, antecessor de Dino no Ministério da Justiça e, à época dos ataques, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

“Um relatório da Abin [Agência Brasileira de Inteligência] ao qual tive acesso em momento algum cita a possibilidade uma manifestação pacífica. Pelo contrário: é super detalhista. Esse documento diariamente chegava para o GSI [Gabinete de Segurança Institucional] e para o Ministério da Justiça. Em todo momento era dito que teria depredação e tentativa de tomar o poder. Espero que o ministro Flávio Dino seja afastado e, se possível, até preso, como foi o Anderson Torres”, disse Marcos do Val.

Dino rebateu, afirmando que o senador apresentou dados inverídicos.

“Já disse e vou dizer mais uma vez: não recebi relatório da Abin. Não adianta pegar trechos de entrevistas para pescar contradições inexistentes, a não ser na sua mente. Essas construções mentais que o senhor faz, muito singulares, não têm suporte nos fatos. […] Fui juiz e nunca fiz conluio com Ministério Público. Nunca tive sentença anulada. Por ter sido um juiz honesto, não admito que ninguém venha dizer que eu tenho que ser preso. Isso é desrespeito. Quem tem honra defende. É a contundência dos justos”, respondeu Flavio Dino.

O senador Alessandro Vieira ressaltou a gravidade da tentativa de golpe de estado no dia 8 de janeiro — que a seu ver não tem recebido a atenção merecida de muitos parlamentares — e ressaltou a importância de ações de todos os Poderes para impedir que situações como aquelas voltem a ameaçar a democracia.

(Com informações da Agência Senado)

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Digite seu nome aqui